sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Renascer

Hoje comemoramos 2010 anos de nascimento de Jesus.  A existência deste homem que conhecemos pela narrativa de milênios é cheia de significados. Para mim, o maior de seus exemplos foi não ter se dobrado aos poderosos de seu tempo, e colocado sua vida a serviço do significado de resistência e luta dos oprimidos contra os poderosos.

Tudo o mais que se diz deste homem como filho de Deus, ele mesmo nos disse, (caso Deus exista), que todos/as somos filhos/as de Deus, assim como ele, que se colocava como igual entre os humildes fossem mendigos ou prostitutas, pessoas com deficiência ou pecadores. Não há nenhuma narrativa de preconceito ou de condenação feita por Jesus que não seja a condenação aos poderosos que pilhavam, escravizavam e matavam para manter sua luxuria e poder.

O dia de natal também tem outro significado, este mais simbólico, a idéia permanente de nascimento, ou, como ocorrem todos os anos, de renascimento. Confesso, neste ano que passou fiz tantas coisas e conheci tantas pessoas que deveria agradecer a vida pelas oportunidades de conhecer o Brasil e seu povo nos quatro cantos.  

De alguma maneira também, preciso me desculpar com minha filha e neto por não ter ficado tanto quanto gostaria com eles. Desculpar-me com meus amigos e amigas por não ter compartilhado do seu tempo nas tantas oportunidades, desculpar-me com meus pais, irmã e irmãos por não ter compartilhado com eles as festas de família. Desculpar-me com a mulher amada, por, não tê-la amado como ela merecia e desperdiçado a oportunidade de entender o amor por seu exemplo.

Queria agradecer aqueles/as que comigo sonharam e fizeram sua parte para construir um mundo mais justo e solidário, às/aos colegas de trabalho, professores/as, alunos/as e parceiros/as do Programa Escolas-Irmãs, aos/as meus amigos/as do Núcleo do Almeida, aos/as colegas da turma formandos de 2004 do curso de Sociologia da Fundação de Sociologia e Política/SP que compartilham encontros etílicos há dez anos, aos educadores/as populares e militantes da educação popular em especial do Fórum de Educação Popular do Oeste Paulista - FREPOP, e aqueles/as que comigo compartilharam encontros, reuniões, seminários, que teimam em no sonho de acabar com as injustiças, não em nome do povo, mas junto com ele.

Se pudesse desejar algo para este natal, é ele que seja a oportunidade de renascimento. Renascer não é voltar, e sim, tentar continuar de uma nova compreensão sobre o ponto de partida, iniciar de onde estamos com nossas aprendizagens e erros, pois não se aprende sem errar, tentar fazer igual e diferente no sempre novo tempo que temos pela frente.

Talvez renascer seja ter a oportunidade de renovar compromissos com a organização do povo oprimido para que se erga contra a opressão; para reconhecer o amor quando ele lhe bata a porta e não desperdiçá-lo com desrespeito; ou ainda, renascer seja a possibilidade de ser perdoado e se perdoar. Não julgar ou ser julgado, mesmo sabendo pela consciência de cada ato que desejaríamos não ter realizado, ou ter feito diferente e melhor.

É assim que quero significar meu natal neste ano.
Desejo a todos/as um bom renascimento.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

[... sem título]

Mais uma semana e nada!
Também... esperava o que?
Que a vida fosse virar de ponta cabeça?
Que os problemas desaparecessem como um passe de mágica?
Que as dores, rancores e prazeres ficariam no som do bater a porta?
Que a falta seria compreendida como alívio?
O vazio como esperança?
A liberdade como prazer e desejo?
Em fim! O que você esperava?

Que as bocas, lábios, olhares, costas, coxas e pés que cruzam as calçadas, poderiam em sua particular beleza recompor a pessoa?

Que os sorrisos, os brilhos dos olhos, as palavras doces, os carinhos poderiam compor um comportamento desejável na forma racional?

Você esperava o que?

Que debulhar os livros da estante e colocá-los numa caixa de papelão juntos aos CDs, fotos e recordações, fechá-la com fita adesiva e pronto! Estaria livre das teorias da humanidade sobre amor, sexo e casamento e poderia viver somente as horas, os dias e as semanas, construindo num vazio sem passado um futuro orquestrado pelo desejo da razão.

É incrível!!! Até roupas novas comprou e toda vez que coloca as mãos no bolso elas vêm com lembranças grudentas entre os dedos.

Nem mesmo o cotidiano copo de qualquer coisa que o valha, num bar qualquer que seja, com quem quer que esteja a mesa traz o que procurava ao bater a porta e deixá-la as costas.

Não importa...

Só quer saber porque não se pode viver sem passado.
Sua geração cresceu cantando a idéia de viver um dia de cada vez, uma hora depois da outra. O prazer em si dos dias, minutos, horas, das ocasiões.

Mas como as horas e os dias passados poderiam não interferir nos dias e horas futuras?
Não só interferem como seu peso orienta o rumo e o prumo no pequeno espaço de nossas vidas. As coisas que sonhamos, gostamos, as que faremos mais tarde, as que iremos desejar pela negação.

Tem medo do que encontrará dentro da caixa na hora de tirar o lacre adesivo. Tem medo das imagens que vão encará-lo, as capas dos livros e CDs, do espirro pela poeira acumulada. Tem medo de se encontrar perdido e se perder na tentativa de se encontrar no passado.

Porque diabos não temos um interruptor a traz da orelha que se possa desligar para dormir?! Ele pensa enquanto traga o último gole do whisk de qualidade duvidosa.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Morreu! Nosso teórico morreu! Mas cá pra nóis, entes ele do que eu!


Aula de política no início do ano de 2004, último ano do bacharelado de Sociologia e Política de minha turma iniciada no ano de 2000 na Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP).

No dia 8 de janeiro estávamos discutindo sobre o texto de Norberto Bobbio, la destra e la sinistra, quando a Paula Rizzo, colega de estudos e botecos, perguntou: O Bobbio está vivo? O Alex foi o primeiro a afirmar: claro, está vivinho. A pergunta se transforma em segundos numa certeza inabalável. Não gente, não pode, o Bobbio já morreu, disse a Paula com uma certeza carteziana. Não adiantou nada todos se inscreverem para afirmar o contrário.

Dia seguinte, 9 de janeiro, estampada nas páginas dos principais jornais do país a manchete, “aos 94 anos, morre Norberto Bobbio”. A certeza de Paula se concretizara. Bobbio agora sim, morrera.

Manhã pós-morte de Bobbio retornando a FESP, aqueles que freqüentaram o dialogo no dia anterior, foram logo perguntando: como você conseguiu? Você matou o Bobbio?? Não gente, não, eu nem sabia que ele estava vivo!!! Respondia Paula com aquela cara espanto e desinteresse.

Passados mais de seis anos Paula é identificada por nós daquela divertida turma de Sociologia e Política como a estudante que se não matou, garantiu no dia seguinte que seu veredicto era verídico. Bobbio em fim estava morto.

No dia 30 de outubro de 2009 abro as páginas de um importante jornal em São Paulo, e vejo na manchete principal: “pouco antes de completar 101 anos, morre Claude Levi-Strauss”. Imediatamente encaminhei uma mensagem para a Paulinha perguntando: Mas ele já não estava morto? E ela respondeu imediatamente.. Não fui eu! não fui eu! Descobri que não fui o único que encaminhou a mensagem a ela, e, ainda quando os colegas daquela dedicada e divertida turma de estudantes se encontram ao menos uma vez por ano, esta historia é repetida com divertido sarcasmo sociológico.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Tempo de decidir

Tenho tantas coisas a decidir até o final deste ano, que hoje passou pela minha cabeça como seria se tivesse a obrigação de compartilhá-las. Já vivi esta sensação de ter de decidir sobre as questões de minha vida incidindo diretamente na vida de um alguém, como se estas decisões não fizessem sentido só para mim e tivessem conseqüências no longo prazo da vida de ambos. Confesso que esta idéia virtuosa de liberdade se mistura também a idéia de ausência.

É difícil admitir, estou exatamente onde sempre quis liberto de obrigações sociais, familiares e afetivas. Ocorre que se constituiu um vácuo criado neste campo de ausências de obrigações que comprime o que existe para que se decida ou, seja defenestrado para a imensidão e fique a deriva até ser resgatado por algum resquício de razão.

Devaneios a parte, neste final de ano se encerra um ciclo em minha vida e abre-se outro de longa duração que inclui como e onde contribuir com a organização para a luta social e política que se avizinha e seus derivados, onde morar, o que estudar, e a velha perguntinha: O que fazer?

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Brasil é um pais jovem

Esta foi a frase que mais ouvi na viagem que fiz a Pádova-Itália pelo programa Escolas-Irmãs. Aos olhos da Europa somos um país jovem, com pouco país de 500 anos comparando com a cultura milenar européia. Naquele continente surgiu a democracia grega, a matemática de Galileu e a arquitetura admirável do período Greco Romano.

No continente Latino Americano foi suplantado pelo período da colonização um riquíssimo conhecimento humano comparado a grandeza arquitetônica dos povos do ocidente e com complexa relação social e política.

O império Inca é um bom exemplo. Incluía do extremo do Equador e o sul da Colômbia, o Peru e a Bolívia, até o noroeste da Argentina e o norte do Chile. A capital do império, atual cidade de Cusco (em quíchua, "Umbigo do Mundo"). No território brasileiro se estima que no ano de 1500, haviam mais de cinco milhões de indígenas e mais de mil povos com uma complexa organização social, domínio da natureza, arquitetura nômade e combatividade guerreira. Nada de primitivo no sentido pejorativo eurocêntrico.

Comparando os continentes, nossa formação como povo se deu: primeiro pelos colonizadores com a resistência e extermínio de povos originários e a escravidão de povos da áfrica, depois pelas elites dos estados nacionais em expansão do modelo capitalista na imigração e, agora, temos a oportunidade histórica de nos reinventarmos como um povo singular entre os povos numa particularidade que remete ao futuro, mais que ao passado.

Este o espírito de intercambio que acreditamos ser frutífero os/as educadores/as gestores/as, crianças e jovens europeus, brasileiros e Latino Americanos no intercâmbio promovido pelo Programa Escolas-Irmãs. O presidente Lula tem dito que somos o continente e a nação do futuro, não para nos tornarmos iguais. Precisamos aprender juntos que é possível promover a sociedade humana com respeito a auto determinação dos povos, com sustentabilidade ambiental, desenvolvimento econômico, igualdade de oportunidades e justiça social. Precisamos fazer diferente e pavimentar a história para que as novas gerações não sejam subjugadas por aquilo que não tem.

M.

Fazer por escrito

Caros/as,
depois de tanto tempo decidi entrar na Blogosfera.

Evitei este espaço por muito tempo por conta da insegurança em escrever. Tenho muitas deficiências na escrita, maltrato constantemente a língua portuguesa, sem sequer dar conta.

Sempre preocupado com o conteúdo mais que a forma, estarei desafiando meus limites para aprender mais sobre a forma sem descuidar do conteúdo. A idéia é esta, errar para aprender. Não conheço aprendizagem sem erro, sem o reconhecimento do erro.

Agradecerei a generosidade de quem passar por aqui e esgrimar opiniões com os breves ou longos textos, histórias, contos ou poemas que aqui pretendo fazer por escrito.

Forte abraço, m.